26 March 2007

is this active citizenship? (3)

Braga, 2006
Se lhes fosse perguntado se comprariam um carro a um político, provavelmente 99% dos portugueses responderia que “Não!”. Os restantes mobilizaram-se para votar no Nojeira Salazar para melhor português. Ironia do destino, tratou-se da única votação livre que o ditador venceu. Ou terá sido a ignorância?

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4 Comments:

At 11:10 pm, Anonymous Anonymous said...

Olá.
Eu acho que é pura perda de identidade, pois mal vai a gente que perde a memória e a noção da realidade. Mas houve votação? eu julgava que andava aí uma espécie de angariaçao, de 60 cêntimos mais iva, da televisão pública para fazer face às despezas das celebrações dos 50 anos.
Um abraço.
Luís Rui

 
At 4:04 pm, Blogger João Feijó said...

Viva!

É certo que a maioria nem quis saber do concurso, mas isto deu uma péssima imagem: um país de ignorantes!... E com o risco de promover a desresponsabilização do fascismo. Há que estar atento!

Outro abraço!

João

 
At 6:46 am, Blogger Egidio Vaz said...

Como Salazar foi parar nos "elegíveis"? Quem o pós como candidato do concurso? Por acaso, surgiu da votação aleatória, em que cada um punha o nome que quisesse? Estou muito apreenseivo e ao mesmo tempo curioso.

 
At 2:33 pm, Blogger João Feijó said...

Pelo que sei, o formato do concurso foi importado de Inglaterra (onde acho que ganhou o Churchil. Acho que nos EUA ganhou o Reagan e que o Bush, não sei se pai se filho, ficou em 4º lugar).

Desde cedo o concurso foi altamente contestado pelos critérios subjacentes à ideia de “maior português”, pelo carácter absurdo da hierarquização, pela impossibilidade de comparar o incomparável, nomeadamente treinadores e jogadores de futebol, músicos, reis, primeiros ministros, navegadores, cientistas, actores de telenovelas, etc, personagens de períodos históricos distintos (do século XII ao século XXI), pela forma dicotómica e redutora como se apresentavam as personagens (tipo génio ou alienado?, como se não existisse sequer uma terceira opção…). A RTP (sempre aberta a críticas, diga-se, e prontificando-se a difundi-las até no próprio programa) justificou-se que se tratava apenas de um programa de entretenimento e que era, apenas, uma forma mediática de informar as pessoas sobre algumas figuras históricas.

Não acompanhei bem o desenrolar do concurso, mas acho que a RTP propôs de início um conjunto de nomes onde não constava Salazar. A polémica estalou a partir daí quando surgiram protestos por essa ausência: que estamos num país democrático, que não podemos negar a história… A RTP lá colocou o nome dele na lista (aliás, qualquer nome poderia ser proposto pelos portugueses). O PCP protestou desconfiando que se trataria de uma oportunidade para o branqueamento do fascismo.

Depois houve a votação para os 100 maiores portugueses, onde acabaram por constar actores de segunda de telenovelas para adolescentes, portanto com visibilidade mediática. Nos 10 maiores portugueses figuraram Álvaro Cunhal e Salazar, duas figuras políticas bastante polémicas e com forte poder de mobilização. Desses 10 finalistas resultou uma segunda votação para “o maior português”.

Agora, quem votou no Salazar? Também gostaria de saber. De acordo com a RTP estão mais concentrados no norte, mais conservador, menos escolarizado, mais influenciado pelo moralismo e pela hipocrisia católica, onde os partidos de direita têm mais expressão, onde o desemprego se aproxima dos 10%... Muitos talvez tenham votado contra o Álvaro Cunhal, pouco popular no norte do país.

De acordo com a RTP foram os mais novos e os mais velhos que votaram no Salazar (talvez alguns ex-PIDES, talvez alguns antigos combatentes, talvez alguns retornados que se sintam espoliados das ex-colónias, talvez muitos pensionistas que vivem de reformas miseráveis, não sei ao certo). Em relação aos mais jovens talvez sejam adeptos de ideais de extrema-direita (que começam a adquirir um maior poder de mobilização). Não conheço bem esses grupos de jovens mas suponho que sejam grupos oriundos das classes médias-baixas, não muito escolarizados (o jornal Público de ante-ontem fazia referência a associações de estudantes do ensino superior apoiadas por partidos de extrema-direita), bastante revoltados, que sentem os imigrantes como uma ameaça… Não posso responder ao certo. Mas vou passar a estar mais atento. A extrema-direita cresce pela Europa, e Portugal não é excepção…

Uma outra leitura que foi feita é que se tratou de um voto de protesto em relação ao presente. Em dois aspectos os ideais do 25 de Abril falharam redondamente:

1) no campo da justiça multiplicam-se escândalos de corrupção, os processos de investigação e julgamento demoram anos e desconfia-se que os suspeitos não sejam condenados (no tempo do fascismo também haviam escândalos, mas eram abafados, porém o Salazar tem fama de avarento e incorruptível)

2) No campo da educação, as ideais de democratização do ensino do pós 25 de Abril traduziram-se num facilitismo e numa diminuição das exigências e da qualidade no ensino. Paralelamente aumentam os casos de indisciplina nas escolas, ou pelo menos estão cada vez mais mediatizados.

Tendo como referência as dificuldades do presente, as pessoas projectam no passado um sistema mais ordenado e socialmente mais justo, esquecendo/ignorando por completo as dificuldades que se viveram.

Não sei explicar o fenómeno, mas urge analisá-lo!

Um abraço,

João

 

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