25 April 2007

I´m free and I am happy

Vilankulos, 2003

Enquanto cantava reli este delicioso texto de valter hugo mãe:

“às vezes penso que o vinte e cinco de abril de setenta e quatro foi o dia em que a minha cabeça nasceu. a ideia é mais simples do que possa parecer, dessa data guardo a minha recordação mais antiga.

em setenta e quatro eu faria o meu terceiro aniversário e posso lembrar-me daquele dia por duas razões distintas, nenhuma menos relevante para toda a minha vida; primeira: eu estava com os meus pais e os meus avós maternos em lisboa, subitamente apanhados entre ruídos de tiros e confusões em redor do banco de portugal; segunda: viéramos de angola havia pouco tempo e lá não vira nenhuma criança loira, de pele clara, como o menino que brincou comigo no tempo de espera pelo meu pai. (…) um menino disse-me, eu cá vou para o escorrega, e eu nunca mais esqueci a sua expressão oral. dizia eu cá para tudo. parecia-me estranho. e menos igual vira um menino tão claro que me confunde ainda hoje a memória: não sei se em verdade o dia estava luminoso, se era o cabelo dele que o acendia em nosso redor. (…)

no dia em que a minha cabeça nasceu ofereceram-me a liberdade e conheci a diferença. conheci e aceitei a diferença. que no mundo haveria de ver gente clara ou escura, pobre ou rica, mão esquerda ou mão direita fechada sobre o peito, e haveria de me reportar constantemente àquele momento que guardei esquecido para só entender mais tarde. haveria de entender, vez por todas, que não desperdiçaria nunca coisa tão cara que um só dia me trouxe”.

4 Comments:

At 5:53 pm, Anonymous Anonymous said...

podes crer, mano branco: nessa noite, de 24 p'ra 25, até chorei. Até ter a certeza de que "côr" era o golpe, fiquei especado na rádio com uma ansiedade tremenda, com uma dor no peito que me impedia de ver e respirar direito. A suspeita de que poderia ser o Kaúlza pôs-me irrequieto. Acordei quem em casa dormia e vim p'rá rua às 6/7 da manhã, a ver o que se passava... Depois da confirmação, tornei a chorar, pensando: "o que vou fazer com esta Liberdade?" Foi, de certo, a maior emoção da minha vida! A hipótese de ir viver para Angola foi literalmente posta de parte. E, agora, o que resta? Sem dúvida, e sempre, a LIBERDADE! Essa de poder dizer, bem alto, PUTA QUE PARIU O FASCISMO e todas as formas que queiram controlar e moldar a minha personalidade ou a minha maneira de ser. Sou livre, pôrra! E tento ser feliz, à minha maneira. Quanto a Angola, hei-de lá voltar um dia. Abreijos. Je.

 
At 6:06 pm, Blogger João Feijó said...

“Mano branco”? Olha que sou mais cor-de-rosa escuro. No verão fico meio acastanhado. Quanto ao resto é como dizes: "PUTA QUE PARIU O FASCISMO e todas as formas que queiram controlar e moldar a minha personalidade ou a minha maneira de ser. Sou livre, pôrra!"

 
At 6:30 pm, Anonymous Anonymous said...

Põe-te sossegado, Feijó. O Je é o Camilo, eh, eh! Avante, S. Vítor! Je.

 
At 6:42 pm, Blogger João Feijó said...

Eu sei camarada Camilo, já me tinhas contado a tua história do 25 de Abril. E é sempre um prazer ouvi-la de novo. O Je tem alguma coisa a ver com "Carta a Miguel Djéjé"? Era giro se tivesse. Avante e outro abreijo.

 

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