05 May 2007

lost in translation (2)

Stockholm, 2002

Se vivêssemos num mundo surrealista, um dia surrealista seria assim:

1- Acordar do sonho para o sonho, bastando abrir as paredes do quarto (Max Ernst, Murais para a casa de Gala e Paul Éluard, 1923)
2- Chávena de café, prato de torradas e jornal aberto sobre as pegadas dos pés da mesa (Meret Oppenheim, Mesa com Pernas Pássaro, 1939)
3- Tactear até à maçaneta certa do armário para não tropeçar nas montanhas ou no céu com nuvens (Marcel Jean, Armário Surrealista, 1941)
4- Se estiver Primavera de Verão, vestir as borboletas com comprimentos de valsa, condizem bem com o chapéu de palha de onde não voa o escaravelho (Elsa Schiaparelli, Vestido, 1937)
5- Sentar-se no carrinho de mão para que alguém nos leve a passear (Óscar Dominguez, Carrinho de Mão, 1937)
6- Como ninguém vem, ficar em casa e mudar para assento mais carnudo até o corpo ficar maçado do beijo (Salvador Dalí e Edward James, Sofá Lábios de Mãe West, 1938)
7- “Ai” em vez de “Alô”, porque o telefone pica (Salvador Dalí e Edward James, Telefone-Lagosta, 1938)
8- Sonhar sozinho antes da noite, ocupando a nuvem toda (Isamu Noguchi, Sofá forma de nuvem, 1948)
9- Não recusar o convite para o ballet, especialmente se as esculturas dançam (Giorgio de Chirico, Figurinos, 1929)
10- Pôr o casaco de festa, de beber licor por palhinha e com copos extra para amigos, e brindar ao dia surrealista (Salvador Dalí, Casaco Afrodisíaco, 1936)

in Pública, 29-4-2007

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